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23.8.07

a moira, continuação

O problema está, parece-me, no facto de não existirem escolhas conscientes. Numa época é que o gostar é falso, é um mero produto de uma indução forçada, nenhuma escolha baseada no gosto é suficientemente segura e consciente para que se torne suportável durante um longo período de tempo. Por isso todas as escolhas são frágeis, temporais, quase efémeras... O que hoje é desejo, amanhã é repulsa. É isto o que marca a construção social hoje, a sua incapacidade de manter as suas escolhas, a sua incapacidade de manter as suas decisões e responsabilidades, falando em termos conceptuais, a sua incapacidade de se definir ao nível do micro-sistema.

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a moira

O que é o inevitável? Inevitável é aquilo que mesmo que não o desejemos, temos de viver com isso, sem mudança, sem desvio... Sempre e sempre o mesmo desde o dia do começo até ao último suspiro... Existem mesmo escolhas irreversíveis? Haverá mesmo um ponto em que assumindo uma escolha, não se possa simplesmente voltar atrás? Dizer, "desculpem, enganei-me, não era bem isto, não sei bem o que era, mas não era bem isto". Desde pequenos ensinam-nos que apenas podemos escolher uma coisa de cada conjunto de coisas que nos vão "aparecendo" ao longo da existência... Uma vida, um emprego, uma casa, uma mulher/homem, uma religião, um clube, um livro, uma música, uma imagem... Por um lado compreendo, é complicado para um ser cuja existência dura apenas cerca de 30 anos conscientes poder apreender completamente a quase-totalidade de qualquer objecto. Por outro lado parece-me de uma violência atroz ser obrigado a fruir apenas uma ínfima parte desta imensidão que é a existência. Claro que a organização social em que estamos inseridos, marcadamente religiosa da pior maneira possível (ou terá sido a religião a ser marcada pela organização social? Pactos entre política, poder e religião há-os e ainda os hão-de haver aos pontapés), vai lentamente sedando qualquer vontade de lhe fugir, de fugir a esta ordenação que, de alguma maneira, sabe a falso, sabe a imposição forçada, quase contra-natura. O problema estará no curto tempo de duração da existência humana, ou numa construção social desadequada? Inclino-me mais para a segunda hipótese, talvez por ser a mais razoável, a a mais simples de modificar...


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