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6.7.04

sem título

Ena, que título tão pomposo... Sem título... a forma mais airosa de se sair bem mesmo quando não temos nenhum sítio por onde sair. Ao estar a escrever estas linhas, posso, eventualmente, deixar transparecer que não tenho mesmo nada para escrever. Pois bem, engana-se redondamente, não literalmente, claro, quem pensar que estas linhas são um subterfúgio linguístico para dizer alguma coisa não dizendo nada. Eu nunca usaria a táctica de falar de nada falando de alguma coisa para assim ter alguma coisa para dizer. Asseguro-vos de que, até ao início da primeira linha deste post eu encontrava-me em pleno processo criativo, mas... não pude resistir a cogitar um pouco sobre esta dupla questão. Não ter título e falar sobre não ter título. É engraçado... O "sem título" é sobretudo usado pelos "artistas" estéticos quando fazem algo que, francamente acho, não compreendem. Por "artistas" estéticos entendam-se os pintores, escultores, fotógrafos artísticos, entre outros cuja "arte" é predominantemente visual. É engraçado. Parece-me que a única coisa, o único factor, que poderia permitir a um autor não nomear a sua obra seria o simples facto de, quando se trata de "artes" visuais", as obras em causa serem absolutamente únicas e irrepetíveis. Será este facto que permite esta recusa da nomeação? Esta autonomia da "obra de arte" face ao "artista" que prescinde de a nomear torna-a individual, permitindo que a "obra de arte" assuma tantas identidades como o numero de indivíduos que a percepcionam enquanto "obra de arte". A recusa da nomeação torna-se assim o próprio nome da "obra-de-arte-sem-nome". A "obra de arte" adquire um sentido único e individual não só em si mesma e para si mesma mas também para quem a vê e admira. Funde-se assim o duplo carácter da "obra de arte", o de ser universal e individual ao mesmo tempo. Assim, em vez apelidar a sua obra de "sem título" o "artista" devia usar o nome de "todos os títulos". Talvez, depois desta brevíssima reflexão, eu devesse apelidar este texto de "Meditações sobre a nomeação da obra de arte". Mas não, acho que, neste caso, o "sem título" se adequa bem.


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