29.1.10
sobre a morte
Numa investigação sobre a morte, sobre as atitudes perante a morte, várias são as questões prévias que se colocam não só relativamente ao tipo de abordagem que se pode ter perante o próprio conceito e significado simbólico do “acontecimento” da morte, mas também relativamente à visão e ao significado que o mesmo “acontecimento” tem para cada um. Antes de tudo, fazer a análise da morte, ainda que de um ponto de vista da observação das atitudes perante esta, não deixa também de ser um exercício pessoal da morte, enquanto experiência da morte própria por um lado, experiência essa sempre numa dimensão em que nos projectamos como ausência presente da própria morte, não a sofremos, simplesmente vemos a nossa ausência, simbolicamente representada, por exemplo, numa campa com o nosso nome ou foto e com pessoas conhecidas à volta ou seja projectamos a nossa morte através da experiência da nossa morte tida pelo outro, e por outro lado como experiência da morte do outro, desta vez vista como ausência e tida/sofrida na primeira pessoa. Em bom rigor, a experiência da morte é sempre uma experiência de ausência. Por um lado de nós próprios em relação ao mundo, somos como o espião invisível que vê a sua ausência como que escondido atrás de algo, e por outro lado a ausência do outro sentida na primeira pessoa. Ou seja, a morte é sempre a morte do outro.