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14.2.04

rastro

Hoje, em mais um dia de sublimação e festejo da hipocrisia humana, eu, procuro um rastro... "un trace"... que algum espectro por aqui ou por ali me tenha deixado, a mim... em mais uma das suas brevíssimas aparições fantasmáticas...
das quais na minha memória só restam imagens indecifráveis...

Odeio as modas forçadas pelo "socius" de plástico...


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11.2.04

descartes, o cogito, e uma estátua para catarina da suécia

olha que sorridente que ele está... será que morreu com um sorriso nos lábios? Catarina... Catarina...

Há 354 anos, no dia onze de fevereiro do longínquo ano do senhor de 1650, morria René Descartes, vítima de uma pneumonia sueca, ou de uma sueca pneumonia. Porque diabo havia, Cataria da Suécia, de querer falar com Descartes às cinco da manhã, presumivelmente a 1 de janeiro de 1650? Janeiro em Portugal já é um mês frio. Cinco da manhã a um de janeiro aqui na santa terrinha já aterroriza um pouco... mas e na Suécia? Bom, o homem lá apanhou a pneumonia e foi desta para melhor... Do que nos livrámos nós, estudiosos da filosofia, com esta acção de tão bondosa senhora? Não vou especular o que eles faziam às cinco da manhã... diálogos filosóficos... sobre a questão da liberdade na união senhor Descartes? A pneumonia não terá resultado de um choque térmico? A miuda tinha 23 anos... A mim restam-me muitas dúvidas. Apenas levanto a questão: sueca, 23 anos, rainha; francês, 53 anos, muita lábia... Bom, já chega de especulações sobre as causas da morte do senhor Descartes. Ou como diria o meu professor de Filosofia do Conhecimento num tom claramente gozão, Renato das Cartas. Pessoalmente gostava mais de lhe chamar Descartável... Nunca lhe encontrei grande uso... Claro que em qualquer conversa com um não estudioso da filosofia lá vinha sempre a porra do cogito. A malta lá dizia "penso logo existo", a seguir vinha a versão alcoólica "bebo logo encabrito-me todo"...

Como Descartes chega ao cogito:
Foi com um enorme gozo que reparei que no Dictionnaire des Philosophes de Denis Huisman, obra muito utilizada pela malta da coruja, é sobre Jaques Derrida o artigo que precede a dissertação sobre Descartes... A gargalhada que se soltou em mim foi brutal... Lá está o enciclopedista que age em mim sem mim. Bom, adiante, o que importa aqui é levantar o véu ao cogito. Tudo começa quando Descartes resolve usar como método de chegar mais depressa ao conhecimento, a dúvida, isto é, colocar tudo o que está à sua volta sobre o denso véu da interrogação. Isto porquê? O tipo queria construir uma base de partida livre de quaisquer pressupostos, o que necessariamente implica duvidar de todas as verdades. É como o sistema judicial, duvido que seja inocente até provar que é culpado. O método da dúvida, sim, isto é um método, consistia em colocar todas as premissas que fundam a realidade em causa para depois as examinar uma a uma seguidamente. Claro que isto à luz do historicismo é um disparate, mais isso não é importante agora. Está encerrado aqui o desejo de construir uma nova ciência sem preconceitos. O que Descartes pretende é levar a cabo uma tarefa de destruição de todos os preconceitos com vista à construção de uma nova forma de ciência assente em bases mais sólidas que as anteriores... modernos... Notem que já Roger Bacon falava nisto trezentos anos antes, mas pronto, adiante. Aqui surge o problema, para colocar todas as verdades em causa temos de partir de algum lado, olha o historicismo a bater-lhe à porta. E ele abriu-a. Precisava de apoiar o seu pezinho em algum sítio para poder duvidar de tudo o resto. E o que foi que o nosso amigo se lembrou? Para duvidar de alguma coisa é preciso o quê? Que alguém duvide. Duvidar implica ter consciência da dúvida. Implica uma consciência que duvide. Ora lá esta. Para que a dúvida que conduz ao levantamento do véu que cobre a realidade das coisas é necessário alguém que duvide. Logo, cá temos a nossa verdade universal. O método implica a dúvida, a dúvida implica alguém que duvide, para duvidar tenho de ser, logo: duvido logo existo. Cogito ergo sum. Olha, parece-me que vi o Aristóteles aqui algures... Pronto, está desvelado o cogito. Depois a estrutura do cogito já é outra conversa. Descartes vai dizer que a consciência não depende do corpo, devemos ser almas errantes, pois, lá está, já não bastava moderno, tinha de ser católico...

Bom, tendo em conta que se o tipo não tem morrido, quem sabe do que mais ele se havia de lembrar, eu advogo perante a comunidade filosófica deste mundo que devíamos erguer uma estátua a Catarina da Suécia por, numa gélida manhã de janeiro ter, directa ou indirectamente, tratado da saúde ao nosso amigo Descartes, vulgo Renato das Cartas, cognome filosófico "o descartável". Só me resta berrar a todo o fôlego:
Uma estátua para Catarina da Suécia!
Uma estátua para Catarina da Suécia!

nota: o texto acima não tem qualquer valor científico nem deve ser visto nesse sentido. É uma paródia a Descartes e uma forma de brincar um pouco com a efeméride que se pretende assinalar.


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10.2.04

sem título

espero redenção nas palavras atiradas ao vento...
mal eu sei que o vento não tem ouvidos...
e que já não transporta as minhas palavras ao seu destino...
o terror do rosto alter esmaga-me...
a covardia dos momentos delicados desarma a necessidade...
dou por mim perdido no meio do nada...
abandonado no vazio do tempo e do espaço...
nada importa... já nada importa...
o absurdo da ausência...
a insuportável insignificância da existência...

as palavras saem tortas, não sou poeta...


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sentimento


gato triste de olhos perdidos no horizonte, não mia, não quer miar...


enorme e total
o nevoeiro suspende sobre o silêncio

a sombra universal dos mortos
diverte-se nos passeios adormecidos
da omnisciência sideral
página a página o sobressalto
escreve hipnose
na escadaria líquida da noite

a vertigem da ausência cresce
nos abismos de cutelos persistentes
o refúgio da carne
flui
em marés de proféticos suplícios

é tempo de fogo
do rastejar incandescente dos deuses
dos olhos tenebrosos e precisos

a hipnose asfixia
o nevoeiro cresce
a cidade dorme

José António Franco


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7.2.04

nota

Os verdadeiramente camelos, para não usar pior palavra, do servidor que dá apoio a este blog, nomeadamente o blogger, mudaram a codificação usada para o texto da sua página principal obrigando-me a deixar de usar o acento respectivo na palavra Zé que consta na assinatura das publicações. Devido a isto, agora em vez de aparecer "Assim miou Zé Gato" aparece "Assim miou Ze Gato". A minha vontade de os insultar publicamente é enorme, mas eu vou-me conter. Podem insultá-los nos comentários se assim o entenderem... Eu já os insultei, mas creio que não me ouviram... Os meu berros ainda não atravessam o atlântico...


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esclarecimento

Caros leitores, caras leitoras, gatos e gatas:
No seguimento das ocorrências da última semana, parece-me que se torna necessário explicar o post do dia três do corrente mês, a última terça-feira. O que se passou foi que o senhor provedor deste blog, o senhor António Luís Armando de Sá e Vasconcelos Gato, e o seu vassalo, o senhor Basílio José Inácio da Gama de Gato acharam, no seu perfeito entendimento, que a minha conduta neste blog não correspondia ao que era esperado e ofendia a comunidade felina que era suposto servir. Nesse sentido estes dois senhores tomaram medidas com vista ao meu afastamento de orientador ideológico, vulgo mestre, deste espaço. Na madrugada do dia um do corrente mês a minha residência foi invadida pela polícia devido a uma denúncia, vejam bem, caros leitores e leitoras, de tráfico de pele de gato. Eu? Traficante de pele de gato? Nunca havia sido alvo de tal injúria, caros leitores e leitoras, nunca! E faço-vos notar que não há pior injúria que pode ser feita a um felino do que esta. Eu a matar os meus semelhantes para vender a sua pele? Vis mentes a daqueles dois senhores! Mas o pior ainda estava para vir. E veio, caros leitores e leitoras e leitoras, quando me foi dado a conhecer, por eles próprios, as suas intenções para o blog. As suas intenções estavam longe de querer servir melhor a vasta comunidade que usufrui deste blog. O que pretendiam era lucrar vergonhosamente com uma gestão de carácter neo-liberal e capitalista deste potencialmente lucrativo espaço. A lista do que pretendiam fazer aqui era abominável. Pretendiam cobrar pelas visitas, cobrar mais pelos comentários, vender espaço publicitário, contratar um grupo de emigrantes ilegais para a produção e venda em massa de textos sem qualidade com a assinatura Gato entre outras vis actividades. E tal, caros leitores e leitoras e leitoras, eu não poderia permitir nunca! Rapidamente se provou a minha inocência, dado o bom nome que tenho na comunidade felina. Logo a seguir à minha libertação tentei organizar uma acção que permitiria a denuncia das intenções destes dois crápulas. Faço-vos notar, caros leitores e leitoras e leitoras, que entre a comunidade felina não é permitida qualquer acção de lucro, isto é, é proibida a venda de qualquer tipo de produtos. Vivemos em sociedade verdadeiramente comunista onde tal seria impensável mas, sendo este blog uma janela para o mundo neo-liberal, estes dois senhores pensavam possível obter lucro exterior a partir daqui sem ser muito notados. Não foi muito difícil, portanto, apanhar estes dois senhores em flagrante tentativa de vender espaço a uma grande empresa e foi o bastante para irem passar umas férias longe, no gulag. Assim pude reassumir o cargo de mestre deste blog no dia quatro do corrente mês, pouco depois da primeira publicação do senhor Basílio Gato, o suposto novo mestre. Asseguro-vos, caros leitores e leitoras e leitoras, que estes dois senhores irão passar longo tempo afastados destas lides tendo em conta todo o trabalho comunitário que irão fazer nos próximos cinco anos felinos. Bom, agora que está clarificada toda a situação, peço-vos desculpa pela intromissão daqueles senhores neste vosso espaço de debate de ideias.

Atentamente:
José Manuel Ângelo Silva do Desespero Y Gato



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5.2.04

monstro


























William Blake - The Great Red Dragon and the Woman Clothed with the Sun


o acaso não existe
hoje vi um monstro

José António Franco


4.2.04

sem título

Uma hora depois... É essa a altura certa? Ou devo esperar mais tempo? Não sei... Apetece-me agora. Gostava de saber o que vai na tua cabeça ao ler isto... Provavelmente que estou tolinho. Sim. É isso. Devo estar. Estou doente... Completamente doente. A insanidade atingiu o pico. Apeteceu-me falar contigo, e agora? Qual é o mal? Não posso? Não tens de responder se não quiseres... falo eu. Desde que ouças... ou faças de conta que me ouves... para eu pensar que me ouves e queres saber e te interessa o que digo. Mesmo que não digas nada, que não dês opinião. Estas farta? Onde vais? Embora? Não queres estar com malucos? Porquê? Isso vindo de ti parece estranho. Vá, foge! Vai-te embora! Vai... Se esperas que vá atrás de ti, enganas-te. Não vou. Não vou mesmo! Ah!? Não queres que vá? Não queres nada? Que te deixe ir embora? Só isso? Está bem, vai lá. Sabes que te vou voltar a procurar, não sabes? Não queres? Que te deixe? Lá me interessa o que queres. Sei que vou. É mais forte do que eu. É mais forte do que tu. Não te despedes? Está bem! Como quiseres! Vai-te lá então. Já foste. Porra! Então e eu? Fico aqui? Fico, fico aqui...


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