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17.7.11

Como Esquecer


Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre - quando alguém se separa, como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já não está lá?
As pessoas têm de morrer, os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar. Sim, mas como se faz? Como se esquece?
Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tente esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas!
É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou de coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso primeiro aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa, esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados, se tivessem apenas o peso que têm em si: isto é, se os livrássemos da carga que lhe damos, aceitando que não tem solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença do que se padeceu. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembrança, na esperança de ele se cansar.
Porque é que é sempre nos momentos em que estamos mais cansados ou mais felizes que sentimos mais a falta das pessoas de quem amamos? O cansaço faz-nos precisar delas. Quando estamos assim, mais ninguém consegue tomar conta de nós. O cansaço é uma coisa que só o amor compreende. A minha mãe. O meu amor. E a felicidade faz-nos sentir pena e culpa de não a podermos partilhar. É por estarmos de uma forma ou de outra sozinhos que a saudade é maior.
Mas o mais difícil de aceitar é que há lembranças e amores que necessitam do afastamento para poderem continuar. Afonso Lopes Vieira dizia que Portugal estava mal, que era preciso exilar-se para poder continuar a amar a Pátria dele. Deixar de vê-la para ter vontade de a ver. Ás vezes a presença do objecto amado provoca a interrupção do amor. E a complicação, o curto-circuito, o entaralamento, a contradição que está ali presente, ali, na cara do coração, impedindo-o de continuar.
As pessoas nunca deveriam morrer, nem deixarem de se amar, nem separar-se, nem esquecer-se, mas morrem e deixam e separam-se e esquecem-se. Custa aceitar que os mais velhos, que nos deram vida, tenham de dar a vida para poderem continuar vivos dentro de nós. Mas é preciso aceitar. É preciso aceitar. É preciso sofrer, dar urros, murros na mesa, não perceber. E aceitar. Se as pessoas amadas fossem imortais perderíamos o coração. Perderíamos a religiosidade, a paciência, a humanidade até.
Há uma presença interior, uma continuação em nós de quem desapareceu, que se ressente do confronto com a presença exterior. É por isso que nunca se deve voltar a um sítio onde se tenha sido feliz. Todas as cidades se tornam realmente feias, fisicamente piores, à medida que se enraízam e alindam na memória que guardamos delas no coração. Regressar é fazer mal ao que se guardou.
Uma saudade cuida-se. Nos casos mais tristes separa-se da pessoa que a causou. Continuar com ela, ou apenas vê-la pode desfazer e destruir a beleza do sentimento, as pessoas que se amam mas não se dão bem, só conseguem amar-se bem quando não se dão.
Mas como esquecer? Como deixar acabar aquela dor? É preciso paciência. É preciso sofrer. É preciso aguentar.
Há grandeza no sofrimento. Sofrer é respeitar o tamanho que teve um amor. No meio do remoinho de erros que nos revolve as entranhas de raiva, do ressentimento, do rancor - temos de encontrar a raiz daquela paixão, a razão original daquele amor.
As pessoas morrem, magoam-se, separam-se, fazem os maiores disparates com a maior das facilidades. Para esquecê-las é preciso chorá-las primeiro. Esta é uma verdade tão antiga que espanta reparar em como ainda temos esperanças de contorná-la. Nos uivos das mulheres nas praias da Nazaré não há “histeria” nem “ignorância” nem “fingimento”. Há a verdade que nós, os modernos, os tranquilizados, os cools, os cobardes, os armados em livres e independentes, os tanto-me-fazes, os anestesiados, temos medo de enfrentar.
Para esquecer uma pessoa não há vias rápidas, não há suplentes, não há calmantes, ilhas das Caraíbas, livros de poesia- só há lembrança, dor e lentidão, com uns breves intervalos pelo meio para retomar fôlego.
Esta dor tem de ser aguentada e bem sofrida com paciência e fortaleza. Ir a correr para debaixo das saias de quem for é uma reacção natural, mas não serve de nada e faz pouco de nós próprios. A mágoa é um estado natural. Tem o seu tempo e o seu estilo. Tem até uma estranha beleza. Nós somos feitos para aguentar com ela.
Podemos arranjar as maneiras que quisermos de odiar quem amamos, de nos vingarmos delas, de nos pormos a milhas, de lhe pormos os cornos, de lhe compormos redondilhas, mas tudo isso não tem mal. Nem faz bem nenhum. Tudo isso conta como lembrança, tudo isso conta como uma saudade contrariada, enraivecida, embaraçada por Ter sido apanhada na via pública, como um bicho preto e feio, um parasita de coração, uma peste inexterminável barata esperneante: uma saudade de pernas para o ar.
O que é preciso é igualar a intensidade do amor a quem se ama e a quem se perdeu. Para esquecer é preciso dar algo em troca. Os grandes esquecimentos saem sempre caros. É preciso dar algo em troca. Os grandes esquecimentos saem sempre caros. É preciso dar tempo, dar dor, dar com a cabeça na parede, dar sangue, dar um pedacinho de carne (eu quero do lombo, mesmo por cima da tua anca de menina, se faz favor).
E mesmo assim, mesmo magoado, mesmo sofrendo, mesmo conseguindo guardar na alma o que os braços já não conseguem agarrar, mesmo esperando, mesmo aguentando como um homem, mesmo passando os dias vestida de preto, aos soluços, dobrada sobre a areia de Nazaré, mesmo com muita paciência e muita má vontade, mesmo assim é possível que não se consiga esquecer nem um bocadinho.
Quanto mais fácil amar e lembrar alguém – uma mãe, um filho, um grande amor – mais fácil deixar de ama-lo e esquece-lo. Raio de sorte, ó lindeza, miséria suprema do amor. Pode esquecer-se quem nos vem à lembrança, aqueles de quem nos lembramos de vez em quando, com dor ou alegria, tanto faz, com tempo e paciência, aqueles que amamos com paciência, aqueles que amamos sinceramente, que partiram, que nos deixaram, vazios de mãos e cheios de saudades, esses doem-se e depois esquecem-se mais ou menos bem.
E quando alguém está sempre presente?Quando é tarde. Quando já não se aguenta mais. Quando já é tarde para voltar atrás, percebe-se que há esquecimentos tão caros que nunca se podem pagar. Como é que se pode esquecer o que só se consegue lembrar? Aí está o sofrimento maior de todos. O luto verdadeiro. Aí está a maior das felicidades.


Cardoso, Miguel Esteves - Último Volume. 5ª ed. Lisboa: Assírio & Alvim, 2001, pp. 79 - 83


Um belo texto de Miguel Esteves Cardoso


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15.7.11

Diários Zubirianos 2 - Sobre as Vias de Acesso à Realidade e ao Conhecimento

"En su virtud, las distintas dimensiones de la verdad real, no son sino ratificaciones de las distintas dimensiones estructurales de la realidad simpliciter misma, y por tanto, la pluridimensionalidad de la verdad real no constituye tan sólo una pluralidad de vías de acceso a la realidad, sino la actualización intelectiva de las distintas dimensiones proprias de lo real en cuanto tal. Para descubrirlas, pues, es a la verdad real a lo que forzosamente habremos de recurrir."


Zubiri, Xavier - Sobre la Esencia. 5ª ed. Madrid: Alianza Editorial, 1985, pp 124

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22.2.11

song for a swan girl


A Girl Called Eddy - Somebody Hurt You




Boy
Somebody hurt you
Boy
I wish I knew who
Could look
Into your sad eyes
And make
Such a sweet thing cry

You're lonely like only the broken can know
Aching for love but afraid to show
See how I miss you

Boy
Someone might hurt you
But it would never be me
I'd wrap you inside me
Be free or just hide for awhile

'Cause I'm lonely like only the broken can know
Aching for love but afraid to show
Lonely like only the broken can be
Breaking my own heart to make you see
See how I miss you

Please don't run away from the things that are real
And don't be afraid of whatever you feel
I'm feeling it too
I'm feeling it too

Boy
If you go looking
For things like in younger days
There won't be an answer
Only love can change your ways

You're lonely like only the broken can know
Aching for love but afraid to show
Lonely like only the broken can be
Breaking your own heart to make me see

See how I miss you
Boy, somebody hurt you
Boy, somebody hurt you
Boy, somebody hurt you
Boy, somebody hurt you
Boy, somebody hurt you
Boy, somebody hurt you
Boy



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6.1.11

Diários Zubirianos 1 - Sobre o Filósofo e o Filosofar


Uma sugestão de Diego Gracia

“Lo difícil del caso es que lá filosofía no es algo hecho, que esté ahí y de que baste echar mano para servirse a discreción. En todo hombre, la filosofía es cosa que ha de fabricarse por un esfuerzo personal. No se trata de que cada cual haya de comenzar en cero o inventar un sistema proprio. Todo lo contrario. Precisamente, por tratarse de un saber radical y último, la filosofía se halla montada, más que otro saber alguno, sobre una tradición. De lo que se trata es de que, aun admitiendo filosofías ya hechas, esta adscripción sea resultado de un esfuerzo personal, de una auténtica vida intelectual. Lo demás es brillante «aprendizaje» de libros o espléndida confección de lecciones «magistrales». Se pueden, en efecto, escribir toneladas de papel e consumir una larga vida en una cátedra de filosofía, y no haber rozado, ni tan siquiera de lejos, el más leve vestigio de vida filosófica. Recíprocamente, se puede carecer en absoluto de «originalidad», y poseer, en lo más recóndito de sí mismo, el interno y callado movimiento del filosofar.”


Zubiri, Xavier - Naturaleza, Historia, Dios. 13ª ed. Madrid: Alianza Editorial, 2007, pp 52-53




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26.12.10

temporalidades


Violent Femmes - Color me Once





Color me Once

Color me once color me twice
Everything gonna turn out nice
Everlasting arms you gotta keep me from these false alarms
Alarm, alarm I see you sad
Maybe I see you I'm glad
Maybe maybe t he fire of her desire
Patience patience said the man
Patience patience I can't understand
Patience like a man and a wife I got patience on my neck like a cold cold knife
I say Jack be nimble Jack fall dead
Jack bend over and give Jilly head
Oh you gotta help my body heal my soul

Dead men working a sinner a saint
Mixing up a pail of paint
Painted the house, black as night
When the sun came up the house was white
Gotta go on gotta go on
we gotta go on you gotta go on
you gotta go on
go on
go on
try and live life like I couldn't



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14.12.10

poetices de uma geração entediada



Álvaro de Campos - Opiário




Opiário


Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro

É antes do ópio que a minh'alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.

Esta vida de bordo há-de matar-me.
São dias só de febre na cabeça
E, por mais que procure até que adoeça,
já não encontro a mola pra adaptar-me.

Em paradoxo e incompetência astral
Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida
E os próprios gozos gânglios do meu mal.

É por um mecanismo de desastres,
Uma engrenagem com volantes falsos,
Que passo entre visões de cadafalsos
Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.

Vou cambaleando através do lavor
Duma vida-interior de renda e laca.
Tenho a impressão de ter em casa a faca
Com que foi degolado o Precursor.

Ando expiando um crime numa mala,
Que um avô meu cometeu por requinte.
Tenho os nervos na forca, vinte a vinte,
E caí no ópio como numa vala.

Ao toque adormecido da morfina
Perco-me em transparências latejantes
E numa noite cheia de brilhantes,
Ergue-se a lua como a minha Sina.

Eu, que fui sempre um mau estudante, agora
Não faço mais que ver o navio ir
Pelo canal de Suez a conduzir
A minha vida, cânfora na aurora.

Perdi os dias que já aproveitara.
Trabalhei para ter só o cansaço
Que é hoje em mim uma espécie de braço
Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.

E fui criança como toda a gente.
Nasci numa província portuguesa
E tenho conhecido gente inglesa
Que diz que eu sei inglês perfeitamente.

Gostava de ter poemas e novelas
Publicados por Plon e no Mercure,
Mas é impossível que esta vida dure.
Se nesta viagem nem houve procelas!

A vida a bordo é uma coisa triste,
Embora a gente se divirta às vezes.
Falo com alemães, suecos e ingleses
E a minha mágoa de viver persiste.

Eu acho que não vale a pena ter
Ido ao Oriente e visto a índia e a China.
A terra é semelhante e pequenina
E há só uma maneira de viver.

Por isso eu tomo ópio. É um remédio
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio.

Fumo. Canso. Ah uma terra aonde, enfim,
Muito a leste não fosse o oeste já!
Pra que fui visitar a Índia que há
Se não há Índia senão a alma em mim?

Sou desgraçado por meu morgadio.
Os ciganos roubaram minha Sorte.
Talvez nem mesmo encontre ao pé da morte
Um lugar que me abrigue do meu frio.

Eu fingi que estudei engenharia.
Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda.
Meu coração é uma avòzinha que anda
Pedindo esmola às portas da Alegria.

Não chegues a Port-Said, navio de ferro!
Volta à direita, nem eu sei para onde.
Passo os dias no smokink-room com o conde -
Um escroc francês, conde de fim de enterro.

Volto à Europa descontente, e em sortes
De vir a ser um poeta sonambólico.
Eu sou monárquico mas não católico
E gostava de ser as coisas fortes.

Gostava de ter crenças e dinheiro,
Ser vária gente insípida que vi.
Hoje, afinal, não sou senão, aqui,
Num navio qualquer um passageiro.

Não tenho personalidade alguma.
É mais notado que eu esse criado
De bordo que tem um belo modo alçado
De laird escocês há dias em jejum.

Não posso estar em parte alguma.
A minha Pátria é onde não estou. Sou doente e fraco.
O comissário de bordo é velhaco.
Viu-me co'a sueca... e o resto ele adivinha.

Um dia faço escândalo cá a bordo,
Só para dar que falar de mim aos mais.
Não posso com a vida, e acho fatais
As iras com que às vezes me debordo.

Levo o dia a fumar, a beber coisas,
Drogas americanas que entontecem,
E eu já tão bêbado sem nada! Dessem
Melhor cérebro aos meus nervos como rosas.

Escrevo estas linhas. Parece impossível
Que mesmo ao ter talento eu mal o sinta!
O fato é que esta vida é uma quinta
Onde se aborrece uma alma sensível.

Os ingleses são feitos pra existir.
Não há gente como esta pra estar feita
Com a Tranqüilidade. A gente deita
Um vintém e sai um deles a sorrir.

Pertenço a um gênero de portugueses
Que depois de estar a Índia descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes.

Leve o diabo a vida e a gente tê-la!
Nem leio o livro à minha cabeceira.
Enoja-me o Oriente. É uma esteira
Que a gente enrola e deixa de ser bela.

Caio no ópio por força. Lá querer
Que eu leve a limpo uma vida destas
Não se pode exigir. Almas honestas
Com horas pra dormir e pra comer,

Que um raio as parta! E isto afinal é inveja.
Porque estes nervos são a minha morte.
Não haver um navio que me transporte
Para onde eu nada queira que o não veja!

Ora! Eu cansava-me o mesmo modo.
Qu'ria outro ópio mais forte pra ir de ali
Para sonhos que dessem cabo de mim
E pregassem comigo nalgum lodo.

Febre! Se isto que tenho não é febre,
Não sei como é que se tem febre e sente.
O fato essencial é que estou doente.
Está corrida, amigos, esta lebre.

Veio a noite. Tocou já a primeira
Corneta, pra vestir para o jantar.
Vida social por cima! Isso! E marchar
Até que a gente saia pla coleira!

Porque isto acaba mal e há-de haver
(Olá!) sangue e um revólver lá pró fim
Deste desassossego que há em mim
E não há forma de se resolver.

E quem me olhar, há-de-me achar banal,
A mim e à minha vida... Ora! um rapaz...
O meu próprio monóculo me faz
Pertencer a um tipo universal.

Ah quanta alma viverá, que ande metida
Assim como eu na Linha, e como eu mística!
Quantos sob a casaca característica
Não terão como eu o horror à vida?

Se ao menos eu por fora fosse tão
Interessante como sou por dentro!
Vou no Maelstrom, cada vez mais pró centro.
Não fazer nada é a minha perdição.

Um inútil. Mas é tão justo sê-lo!
Pudesse a gente desprezar os outros
E, ainda que co'os cotovelos rotos,
Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!

Tenho vontade de levar as mãos
À boca e morder nelas fundo e a mal.
Era uma ocupação original
E distraía os outros, os tais sãos.

O absurdo, como uma flor da tal Índia
Que não vim encontrar na Índia, nasce
No meu cérebro farto de cansar-se.
A minha vida mude-a Deus ou finde-a ...

Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,
Até virem meter-me no caixão.
Nasci pra mandarim de condição,
Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira.

Ah que bom que era ir daqui de caída
Pra cova por um alçapão de estouro!
A vida sabe-me a tabaco louro.
Nunca fiz mais do que fumar a vida.

E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas —
E basta de comédias na minh'alma!

(No Canal de Suez, a bordo)

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28.11.10

estados de alma


Asian Dub Foudation - Blowback

The Cult - Love Removal Machine

The The - This Is The Day

Iggy Pop & Kate Pierson - Candy

Tindersticks - Can We Start Again?

The B-52's - Planet Claire

The Cure - In Between Days

Arcade Fire - Ready To Start

The Strokes - Last Nite

The Smiths - This Charming Man

Sigur Rós - Agaetis Byrjun


Toda a gente tem um mundo dentro... Mas são aqueles, ou aquelas, que o conseguem exteriorizar melhor que nos seduzem mais...



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5.10.10

Temporalizar




Yann Tiersen - La Valse d'Amelie, do álbum On Tour



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3.8.10

danças com a lua




- A menina dança?

- Até acho que dou uns passitos, não acha?

- Sim, vamos a isso?

- Vamos...





- Eh! Veja lá, não troque os pés..

- Desculpe, entusiasmei-me. Sabe, é que nem sempre aceito companhia...

- Pronto, compreendo, então sigamos...





- Um passito pra direita...

- Você é cómico...

- Não sou nada...





- Você é magnífica. Onde aprendeu a dançar assim?

- Oh... São muitos anos a ver dançar os outros...

- Muitos anos, mas ainda é uma jovem...

- Não seja mentiroso...

- Nunca...





- Estou cansada... Paramos?

- Como quiser...

- Já não fazia isto há anos...

- Sente-se bem? Precisa de alguma coisa? Está ofegante...

- Não quero nada... Abraça-me só...

- A menina manda...

- Tolo...

- Quando quiseres...









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23.7.10

a lua hoje





quarto crescente...


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18.7.10

o vespeiro




as belas vespas... cuidado... elas picam...




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8.6.10

as deliciosas sandes de merda


"Ezequiel, que era escravo entre os Caldeus, teve uma visão perto da pequena ribeira de Chobar, a qual desagua no Eufrates. Em nada nos devemos espantar que, nessa altura, tenha visto animais com quatro focinhos e quatro asas, com patas de veado, e também rodas que andavam sozinhas e possuíam o espírito da vida; todos estes símbolos deleitam a nossa imaginação; mas vários críticos ficaram revoltados com a ordem que lhe deu o Senhor de comer, durante trezentos e noventa dias a fio, pão de cevada, de trigo e de milho coberto de excrementos humanos. (1)

(...)

(1) Era o que hoje podíamos chamas deliciosas sandes de merda..."


Dicionário Filosófico de Voltaire, Editorial Presença, 1966, Primeiro Volume, página 273



Uma tradução, não assinada, de Luiz Pacheco, oficialmente a tradução é de Bruno da Ponte. Convenhamos que esta nota do tradutor, da autoria de Pacheco, não deixa de ser uma reflexão bastante... assertiva... tendo em conta o texto...

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17.5.10

a rosa


uma rosa cor-de-rosa...



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11.5.10

o moscardo




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lithium


Lítio: Os sais de lítio têm aprovação para o tratamento de transtorno bipolar. Inicialmente classificado como um anti-psicótico, o lítio (administrado em forma de carbonato de lítio) é hoje utilizado por seus efeitos reguladores de humor, anti-maníaco e, secundariamente, anti-depressivo (sua eficácia para a depressão unipolar, entretanto, ainda não foi bem estabelecida).

Fonte: Wikipédia



Nirvana - Lithium




I'm so happy. Cause today I found my friends.
They're in my head. I'm so ugly. But that's ok.
'Cause so are you. We've broke our mirrors.
Sunday morning. Is everyday for all I care.
And I'm not scared. Light my candles. In a daze cause I've found god.

Yeah yeah yeah yeah.....

I'm so lonely. And that's ok.
I shaved my head. And I'm not sad, and just maybe
I'm to blame for all I've heard. And I'm not sure.
I'm so excited. I can't wait to meet you there.
And I don't care. I'm so horny. But that's ok. My will is good.

Yeah yeah yeah yeah yeah.....

I like it. I'm not gonna crack.
I miss you. I'm not gonna crack.
I love you.I'm not gonna crack.
I killed you. I'm not gonna crack.

I'm so happy. Cause today I found my friends.
They're in my head. I'm so ugly. But that's ok.
'Cause so are you. We've broke our mirrors.
Sunday morning. Is everyday for all I care.
And I'm not scared. Light my candles.
In a daze cause I've found god.

Yeah yeah yeah yeah.....

I like it. I'm not gonna crack.
I miss you. I'm not gonna crack.
I love you.I'm not gonna crack.
I killed you. I'm not gonna crack.



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8.5.10

aventuras



a primeira aventura





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22.4.10

consternação


Estou profundamente consternado. Como se pode verificar pela imagem abaixo, alguém veio a este blog com a pesquisa "ze gato faleceu". Preocupa-me que alguém se quer pense no meu falecimento, ou, quem sabe, deseje a minha morte. Não sei se por algum lado circula esse rumor, mas quero assegurar-vos a todos e a todas que estou vivo e bem vivo e que não há nada a temer quanto à minha existência, que pessoalmente muito prezo.







Contudo, esta estranha pesquisa deixa-me curioso... Feita de um sistema operativo Macintosh WinNT?!? Como é isto possível? Só se for alguém do futuro... Será que tenho alguma criatura do futuro a ver o meu pobre e simples espaço?!? Será que vou morrer quando houver tal sistema operativo? Quando a apple comprar a microsoft? Será?!? Estou espectante. Por favor, quem quer que sois, apresentai-vos, dizei-nos quem sois, oh filho de um futuro desconhecido... Como vou eu morrer?!? Atropelado? Enfarte? Cancro? Overdose de chumbo? Vou ser rico? Vou dar a luz ao mundo? E a revolução? Hã? E o horizonte vermelho? Hum? Diz-nos o que se vai passar...

Ou és uma estranha fraude e andas aqui a enganar o pessoal?

Ou é o sitemeter que está maluco?


Restam todas estas questões... e a espera... de uma resposta... fantasmática... algures...



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20.4.10

tempo


Porque é que o tempo passa? Não gosto que o tempo passe... Fico sem tempo...



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floresta em sonho


Mão Morta - Floresta em Sonho, do álbum Müller no Hotel Hessischer Hof



FLORESTA EM SONHO
[Heiner Müller - Adolfo Luxúria Canibal / António Rafael]

Esta noite atravessava uma floresta a sonhar
Ela estava cheia de horror. Seguindo a cartilha
Os olhos vazios, que nenhum olhar compreende
Os bichos erguiam-se entre árvore e árvore
Esculpidos em pedra pelo gelo. Da linha
De abetos, ao meu encontro, através da neve
Vinha estalando, é isto um sonho ou são os meus olhos que a vêem,
Uma criança de armadura, coiraça e viseira
A lança no braço. Cuja ponta faísca
No negro dos abetos, que bebe o sol
O último vestígio do dia uma seta de ouro
Atrás da floresta do sonho, que me faz sinal de morrer
E num piscar de olho, entre choque e dor,
O meu rosto olhou-me: a criança era eu.


Ainda não encontrei o Tiago Capitão, por isso vai esta...



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14.4.10

valham-te


as amêndoas de chocolate que tenho aqui na gaveta?

todos os anjinhos e santinhos do Céu?

mil Satanases?

os serafins?

todos os santinhos?

no amanhã?

todos os Demónios?

teus nativos?

mais que o silêncio?

os amigos?

os poderes de Jesus?


Este post é um resultado de uma pesquisa com a expressão "valham-te" no sítio do costume...



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12.4.10

deambulações


Persiana aberta... Uma luz ténue projecta-se no vidro da janela...

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11.4.10

pérola branca


Não hei-de morrer sem levar este bicho às 9000 rpm em sexta...




Lexus LFA

Engine - V10, 4805cc, 40v
Max power - 552bhp @ 8700rpm
Max torque - 354lb ft @ 6800rpm
Top speed - 202mph (claimed)
0-62mph - 3.7sec (claimed)
Price - £340,000
On sale - April 2010


Aquele motor faz-me lembrar os fórmula 1 dos anos 90. O v10 da Renault era o melhor motor na altura. Este v10 é feito em colaboração com a Yamaha, que fez motores para f1 entre 1989 e 1997... Tempos magníficos... Já não me sentia tão entusiasmado com um carro desde há muito tempo... Aquele motor...

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9.4.10

sob o signo da gripe


Eu estou com gripe, eu estou feliz
Com a minha gripe eu sei que vou ser feliz
Vou engatar as gajas todas
Com a minha voz de bagaço elas ficam todas doidas
Com a gripe sou feliz


A minha gripe é melhor que a tua



Precisa de perder peso?
Não tem sorte no amor?

Gripe!

É o método mais natural de perda de peso. Ganhe uma voz fantástica.

Use Gripe durante uma semana, fique elegante e com uma voz irresistível.

Gripe!

Eu gosto da minha gripe!

Gripe! não dispensa a leitura do prospecto. Aconselhe-se com o seu médico.

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29.3.10

frases, grandes, confusões


ontem passei por tua casa... era tarde... tinhas a persiana fechada... às vezes faço isto... não porque te queira... não sei porquê...


sempre que penso em ti de outra maneira... que acho que até te quero ver de outra maneira... sempre... sempre que me lembro que podias ter sido... algo se mete no caminho...


acho prefiro o paul à vala...




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19.3.10

a olhar para trás

Às vezes olhamos para trás... à procura dos momentos de felicidade, dos espaços, dos cheiros, das memórias, dos lugares, dos sabores... dos traços... esquecendo que as circunstâncias nunca se repetem, que o que lá estava, lá esteve, já não está... que o que levámos já não levamos connosco agora... que não se sente algo duas vezes... comer depois de provar é só comer... pensar o contrário é ilusão...



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10.3.10

Mão Morta - Novelos de Paixão


Novelos de Paixão, do novo álbum, Pesadelo em Peluche

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9.3.10

sobre o dia da mulher

O que as mulheres precisam, aliás todos nós, enquanto sociedade, precisamos, não é uma palmadinha nas costas uma vez por ano. É sabermos sempre que há desigualdade, que essa desigualdade tem que ser combatida e eliminada. Que há mulheres que são despedidas porque engravidam, que há mulheres que ganham menos porque são mulheres, que continuamos a ignorar, mesmo os bons homens de esquerda, que em casa também se trabalha. Esta mentalidade bacoca do "dia de" não passa de uma desculpa política para fazer de conta que se está a tratar dos problemas. Claro que numa sociedade com séculos de hábitos de patriarcalismo é muito complicado mudar as coisas rapidamente. Mas, como em tudo, se cada um de nós fizer um esforço...

e contra mim falo, que sou um dos bons homens de esquerda que se esquecem das coisas elementares...



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25.2.10

sobre todas as mulheres que já amei

Sobre todas as mulheres que já amei...

Será que as amei a todas? Pelo menos num breve momento quero acreditar que sim, que não foi apenas um desvario parvo que me fez correr. Que de todas pensei que podiam explodir, com um bater de asas, o meu mundo. O chato é a realidade. É que, por detrás de toda a ilusão que se cria à volta de outra pessoa, no fundo, o que sobre, é apenas alguém, tão frágil como tu, tão fraco como tu, nem melhor nem pior, diferente no máximo, o que não é mau nem é bom, simplesmente é. E como amar alguém que simplesmente é? Como amar simplesmente quando o que se procura não é apenas alguém, mas alguém que traga qualquer coisa de novo? Alguém com uma perspectiva diferente? Com um mundo diferente? Será que é o mundo que se ama? E, no fundo, a quantas é que disse que amava? Não a quantas achei que amava, mas a quantas o disse enquanto o sentia? Não me atrevo a responder a esta pergunta. Talvez com o medo de descobrir que, afinal, nunca amei ninguém... Vou continuar a tentar convencer-me do contrário... Mas no fundo, não há amor, apenas conveniências e confluências de interesses de pessoas fracas... Quando S. me chamava teórico, talvez a devesse ter ouvido. Quando G. me perguntava como é que eu sabia que amava quando nem sequer sabia o que era o amor, devia tê-la mandado à merda... Não se questiona o amor de ninguém, por muito irracional que seja a maneira como se manifesta. Nunca sabemos o que queremos. Só sabemos que queremos, muito, não importa quem, mas queremos... e isto é muito perigoso. Pensa muito bem antes de dar o passo de assumir alguma coisa com alguém. Pensa nas consequências. Pensa na tua liberdade, pensa na liberdade dela. Pensa nas consequências de te arrependeres daqui a uns meses. Pensa. Conhece-a bem... É muito fácil achar que se ama quem não se conhece. É muito difícil amar quem se conhece bem. O amor é como a religião. Será? Acho que não. A dúvida alimenta a religião, por isso se chama fé. A dúvida destrói o amor, aniquila a confiança, sem confiança nasce a loucura e onde há loucura não há amor. Tens razão, sou um teórico. Vou parar de teorizar no dia em que aparecer alguém que me convença que tem sempre de haver uma relação entre teoria e prática. Entretanto vou ficar à espera que me apareça um anjo, que com um bater de asas faça explodir não o meu quarto mas o todo o meu mundo.

E assim se escreve mais uma pieguice sem nexo...


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24.2.10

the eternal sunshine of the spotless mind


o melhor filme que vi nos últimos tempos...



há memórias que não se apagam...


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14.2.10

velhas memórias - you held the world in your arms tonight




Idlewild - You Held The World In Your Arms Tonight

Every face even the one you saw yesterday
It looks different today
Because everything's changed since yesterday
In every possible way
Things seem different today
Not like yesterday

Is consideration more like an exception of consideration?

You held the world in your arms tonight
And what if you held the world in your arms?

When you're secure do you feel much safer?
When days never change and it's three years later
It's like your life hasn't changed and it's three years late
How does it feel to be three years late
And watching your youth drift away?

What seems different seems different today
What seems different seems different today

Is consideration more like an exception of consideration?

You held the world in your arms tonight
And what if you held the world in your arms?

You held the world in your arms tonight
And what if you held the world in your arms tonight?


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29.1.10

sobre a morte

Numa investigação sobre a morte, sobre as atitudes perante a morte, várias são as questões prévias que se colocam não só relativamente ao tipo de abordagem que se pode ter perante o próprio conceito e significado simbólico do “acontecimento” da morte, mas também relativamente à visão e ao significado que o mesmo “acontecimento” tem para cada um. Antes de tudo, fazer a análise da morte, ainda que de um ponto de vista da observação das atitudes perante esta, não deixa também de ser um exercício pessoal da morte, enquanto experiência da morte própria por um lado, experiência essa sempre numa dimensão em que nos projectamos como ausência presente da própria morte, não a sofremos, simplesmente vemos a nossa ausência, simbolicamente representada, por exemplo, numa campa com o nosso nome ou foto e com pessoas conhecidas à volta ou seja projectamos a nossa morte através da experiência da nossa morte tida pelo outro, e por outro lado como experiência da morte do outro, desta vez vista como ausência e tida/sofrida na primeira pessoa. Em bom rigor, a experiência da morte é sempre uma experiência de ausência. Por um lado de nós próprios em relação ao mundo, somos como o espião invisível que vê a sua ausência como que escondido atrás de algo, e por outro lado a ausência do outro sentida na primeira pessoa. Ou seja, a morte é sempre a morte do outro.



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28.1.10

Chaga

Sou uma chaga... finalmente...




foi como entrar
foi como arder
para ti nem foi viver
foi mudar o mundo
sem pensar em mim
mas o tempo até passou
e és o que ele me ensinou
uma chaga pra lembrar que há um fim

diz sem querer poupar meu corpo
eu já não sei quem te abraçou
diz que eu não senti teu corpo sobre o meu
quando eu cair
eu espero ao menos que olhes para trás
diz que não te afastas de algo que é também teu
não vai haver um novo amor
tão capaz e tão maior
para mim será melhor assim
vê como eu quero
e vou tentar
sem matar o nosso amor
não achar que o mundo é feito para nós

foi como entrar
foi como arder
para ti nem foi viver
foi mudar o mundo
sem pensar em mim
mas o tempo até passou
e és o que ele me ensinou
uma chaga pra lembrar que há um fim


FIM



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5.1.10

amanhecer

manhã... os raios de sol rompem ténues pelas frestas da persiana, o suficiente apenas para salientar os contornos do teu corpo... olho para ti... suavemente passo a mão pelo teu cabelo... com um sorriso, abres ligeiramente os olhos e dizes baixinho, como que um leve susurro, bom dia... por alguns instantes estamos fora do tempo, existimos só para nós... fora da surrealidade do quotidiano e da vida que o sol tem para nós la fora...

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Dialécticas de uma Sociedade Capitalista 2


Parte 2: A dieléctica entre homens e mulheres.

Pergunta: porque é que numa sociedade capitalista as mulheres são desvalorizadas relativamente aos homens?

Resposta: A resposta a esta pergunta reside fundamentalmente na análise da relação de trabalho e do seu contexto. Do ponto de vista do capitalista, ponto as coisas nestes termos simplificados, o aumento da taxa de lucro resulta da criação de mais-valia assente na redução do custo da força de trabalho. Para obter esta redução um dos mais simples mecanismos é a da descriminaçãoda força laboral, quer seja de género, de raça, de orientação sexual, de nacionalidade, ect. Contudo, destas enunciadas, a mais amplamente difundida e aplicada é a descriminação de género. Esta discriminação exerce-se, muitas vezes de uma forma inconsciente e automática, com um único propósito, obter mão-de-obra barata. Muitas vezes esta relação é mascarada como uma conflitualidade entre os sexos, ou mesmo como consequências de uma sociedade ocidental marcadamente patriarcal do ponto de vista histórico, mas isto não passa de areia para os olhos, de tentativas do próprio capitalismo de disfarçar o seu benefício com esta discriminação de género. Resumindo, o capital precisa desta situação precária da mulher no mundo do trabalho, de perpetuar a visão de inferioridade da mulher, simplesmente porque daí tira proveito.

Resposta simplificada: Porque o capital precisa de mão-de-obra barata.

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27.12.09

Dialécticas de uma Sociedade Capitalista 1


Parte 1: A dialéctica entre ricos e pobres, muito simplificada.

Pergunta: Porque é que há ricos e pobres?

Resposta: É necessária a existência de regras que mantenham uma diferença social entre ricos e pobres porque só alimentando o sonho de alguém de menor estatuto poder vir a adquirir um estatuto mais elevado é que se poderá garantir que este alguém de menor estatuto irá trabalhar com eficiência, competência, empenho e vontade, condições essenciais à realização de um bom trabalho. Por isso é necessário à sociedade capitalista apresentar-se com esta dinâmica de circulação social, digamos, para apaziguar os espíritos inquietos. Fundamentalmente este fosso existe para que um grande grupo de pessoas tenham vontade de trabalhar. Se estivéssemos todos ao mesmo nível ninguém se esforçaria, porque a igualdade elimina a necessidade de querer ser melhor porque formalmente não há patamar superior. Em poucas palavras, elimina-se o estímulo à melhoria, ao fazer mais e melhor, não porque fazer mais e melhor enriquece a existência humana, apenas porque o sistema se alimenta de aumentos sazonais, base do sistema capitalista. Aqui assenta o princípio da competitividade. Fomenta-se, portanto, a competição entre os indivíduos para os levar a acreditar que o produto do seu trabalho lhes trará melhorias, o que não se verifica na maior parte dos casos. Esse excesso de trabalho apenas serve para alimentar o próprio sistema.

Resposta simplificada: Porque é preciso que alguém trabalhe e é preciso que esse alguém tenha vontade de trabalhar. Ou melhor, convencer os indivíduos que trabalhar é uma coisa boa.



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Ben-Hur e os Árabes (actualizado)


Já vi o filme Ben-Hur não sei se uma dezena de vezes, mas certamente mais do que meia dezena. Contudo, apenas nesta última noite de natal pude reparar numa coisa interessantíssima. Quando Judah Ben-Hur se prepara para entrar no circo para a corrida de quadrigas, Sheik Ilderim, o árabe dono dos cavalos com que Ben-Hur irá correr, coloca no cinto de Ben-Hur uma estrela de david, símbolo de ambos os povos judeu e árabe. Quer isto dizer que quando Ben-Hur corre contra Messala e a tirania do império romano, este corre em nome do povo judeu e do povo árabe juntos. Não faço ideia nenhuma de qual seria a situação dos povos árabes no período romano ou quais as suas liberdades dentro do império, contudo esta não deixa de ser uma bela ideia num filme realizado em 1959.


Fica aqui a parte do filme onde se pode ver esta cena, 1:10 minutos.



Em leituras do livro de onde deriva o filme posteriores à primeira publicação deste post, verifiquei que a personagem do Sheik Ilderim, é referida como Ilderim, xeque do deserto, e não como árabe, de onde se pode concluir que a cena do filme é mais uma invenção do guionista americano, reforçando a ideia da intencionalidade da dita cena. Fica a dúvida, árabes e judeus, juntos, em 1959, será propaganda?



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23.12.09

tu couches?


Voulez-vous coucher avec moi, ce soit?

Non, je couche pas, je ne fai qu' embracer...





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8.12.09

momentos letárgicos inconvenientes...


- Passar o dia a pensar que tenho de fazer coisas mas a vontade é nenhuma...

- Chegar ao princípio da noite depois de uma tarde a olhar pra lado nenhum e ter finalmente alguma vontade de fazer qualquer coisa de útil...

- Jantar bem e perder qualquer força ou vontade de fazer o que quer que seja...


e assim se passa um dia...


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25.11.09

acordar




Rádio Macau - Acordar


Não parti, mas já não sei voltar
Ando às voltas a esquecer quem sou
Bebo a noite até o Sol chegar
Ele sempre me encontrou

Só o Amor me faz correr
Só o Amor me faz ficar
Só o Amor me faz perder
Só o Amor me faz querer mais

Não sei viver sem ter de viver
O que me dão já não sei gostar
Não se perde o que não se quer ter
Cada vez mais sei esperar

Só o Amor me faz correr
Só o Amor me faz ficar
Só o Amor me faz perder
Só o Amor me faz querer mais

E se for a primeira vez que os teus dedos tocam a luz da manhã, dá-me a tua mão, respira o ar do dia, talvez nada mais...

Só o Amor me faz correr
Só o Amor me faz ficar
Só o Amor me faz perder
Só o Amor me faz querer mais



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24.11.09

qualquer coisa...

Estou. Aqui. Há várias palavras que querem ser ditas, ou que me pedem, de certa maneira, para ser ditas. Resisto, passivamente... Podia escrever, podia falar de muita coisa... Do mar, do sol, de sentimentos, de emoções, de entendimentos, de conclusões, de desejos, de vontades, de resistências, de necessidades, de reciprocidades, de insistências, de ausências, de presenças, de imanências, de certezas, de opiniões, de enganos, de dúvidas, de... provavelmente de mais coisas...
Pensar na vida, no que a vida é, no que a vida pode ser, no que eu quero que a minha vida seja...
Há qualquer coisa, há sempre qualquer coisa que resiste, que obriga a pensar, a duvidar, a ter certezas, a criar ilusões, a fundamentar essas ilusões, a decidir, bem, mal, a achar que se devia ter feito outra coisa, a perseguir sonhos, a desistir de sonhos...

"Há sempre qualquer coisa que está para acontecer, qualquer coisa que eu devia perceber. Porquê não sei, mas sei... que essa coisa... é que é linda!"
José Mário Branco

Posto isto, vou continuar a correr, em frente, para lado nenhum, por nenhuma razão em especial, simplesmente porque sim... Quando me fartar, paro...

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19.11.09

a Dolorosa






Stabat Mater dolorosa
iuxta crucem lacrimosa
dum pendebat Filius

Junto da cruz, de onde o seu filho dependurava, estava a a mãe, chorando, de dor.
(tradução muito livre)


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23.9.09

horas lentas

Passa pouco das dezanove horas no espaço ágórico da sala de leitura da biblioteca... Os transeuntes, pouco mais de uma dezena, concentram-se no seu caminho em direcção aos saberes... Sentado de um dos lados encostado à parede e ao "aquário" que dá acesso ao depósito da biblioteca, observo o lento passar das horas, dos minutos... Vou olhando para para o telemóvel na esperança de que o meu "camarada de trincheira" a umas dezenas de metros de distância, no intervalo de uma das suas vozares defesas do nosso espólio impresso tornado barato em feira, ache tempo para me relatar mais uma das suas aventuras... O sol está quase a pôr-se agora em mais um fim de tarde de final de verão... As luzes electricas, maravilha do mundo moderno, foram agora ligadas, revelando o estranho tecto de textura circular (nada resta da velha faculdade de letras dos anos vinte do século passado)... O dirão os fantasmas que estas paredes por certo albergam? "Oh, oh menina, olhe que esse corredor entre as mesas não é uma passerela..." "Não arraste a cadeira, oh senhor, estão pessoas a trabalhar..." Andará por aqui o nariz adunco? O seu retrato ainda mora no último depósito, escondido, empoirado, entre outros retratos de gente menos conhecida, directores diz o papel que os identifica. "Oh, oh jovem, olhe que isto não é uma praça pra está para aí a tagarelar", susurra o espectro... A noite avança... Na realidade não se ouve nada... nem é suposto, estamos numa biblioteca... Shiu...

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19.9.09

saudades...


tenho saudades...


de me sentar à lareira depois do banho antes de jantar ao sábado...

de acordar aos domingos de manhã com sol...

de ficar a dormir ao domingo de manha...

de um toyota corolla castanho de 1974

de ver o pôr-do-sol à direita em frente a um mar calmo...

do verão azul...

de ir à loja de desporto no intervalo antes de religião e moral pra ir ver o último modelo de sapatilhas...

de um volkswagen 1303 s verde, parecia um sapo...

de gemadas...

de abrir a janela e estar sempre lá a "dama de ferro"...

de molhar os pés na ribeira...

do golo que marquei igual ao do rui costa no apuramento pro euro 96 contra a irlanda, de sapatos e com a sola a descolar...

de andar à caça de pinhões...

d' "o carro"...

do pinhal...

de me deitar na relva...

d' "a casa velha"...

do quintal...



e de outras coisas que agora não cabem aqui...



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29.8.09

pan cachimbo

Um "pan pipe" será um cachimbo pan?


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13.8.09

cesarices

Relativamente ao poeta Cesário Verde, devo dizê-lo, tenho algum apreço por este senhor... Não creio que precise de grande justificação para colocar aqui um poema dele. Provavelmente algo não muito desconhecido... Segue abaixo um inédito, agora já não inétido, inédito que quer dizer ainda não editado em livro e não desconhecido, muito particular, mas muito interessante e decerto que apenas agradará apenas a alguns e que outros não gostarão, como em muitas outras coisas... O poema surgiu pela primeira vez em 1874 no "Almanach XPTO / Comico, Burlesco e Satyrico" e foi aproveitado pelo jornal expresso no número 1916 de 18 de julho do corrente ano no caderno actual como meio de comemorar os 123 anos da morte de Cesário. Tal como o expresso, optei por não corrigir anomalias ortográficas, contudo modifiquei o aspecto gráfico para facilitar a leitura. Segue então o poema "Escândalos"


ESCANDALOS

Falava-lhe ela assim: - "Não sei porque me odeia,
Não sei porque despreza a luz dos meus olhares,
Se o adoro com fervor, se não me julgo feia,
E o meu olhar eguala as chammas singulares
Do incendio de Pompeia!"

"Instiga-me o aguilhão do vício fatigante,
E crava-me o capricho os vigorosos dentes;
Não quero o doce amor platonico do Dante
E sinto vir a febre e as pulsações frequentes
Ao vel-o, ó meu amante!"

"As ancias, as paixões, os fogos, os ardores,
Allucinada e louca, eu vejo que abomina,
E ignoro com que fim em tempos anteriores,
Enchia-me de gosto a bôca purpurina,
E o seio de calores!"

E elle ao vel-a excitante, hysterica, exaltada,
Volveu lhe glacial, britannico, insolente:
- "A tua exaltação decerto não me agrada,
E, ó minha libertina! eu quero-te somente
para mecher salada!"


E viva o século dezanove...

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9.8.09

holocausto canibal

A melhor banda portuguesa... talvez...

Atenção, os Holocausto Canibal são uma banda de gore metal, com tudo o que isso implica...

Violada pela motoserra



Letra:


Jovem vagueava pela floresta

Como que em êxtase nocturno

Sente enigmático vulto

Mover-se pelos meandros da noite

Tomada abruptamente

Sem esboçar qualquer defesa

A cativante e atraente mulher

De imediato é eleita como presa

O ruído da moto-serra,

Materializa-se de seguida na carne

Dilacerante golpe abdominal

Rasga-lhe o toráx profundamente

O estranho engenho motorizado

Inicia golpe até à vulva

Começando perfurar

A envolvente genital

Violada, Pela Moto-Serra

A impiedosa lâmina

Usada pelo sórdido psicopata

Revela-se implacável

Na dilaceração corporal da vítima

Aproxima-se o desfecho do processo

Banhada em sangue

Os gritos da vítima

Ecoam ciclicamente

Consumado o coito laminar

A moto-serra divide-a longitudinalmente

Após os seios esquartejar

O autor do processo sacia a sua mente

Violada, Pela Moto-Serra

A noite é tomada pelo silencio

Uma leve brisa parece desvanecer o odor a morte



Fornicada pelo bisturi




Letra:

Notória impotência sexual

Precipita uso de bisturi

Letal haste metálica

Esburaca a genitalia


Impulso nimfomaniaco

Menarca encetada

Catatonia gradual

Histerectomia diagnosticada

Gradativa taquifilaxia

Anasarca existencial

Libido letargia

Menstrual cólica

Intensifica agonia

Dispareunia hiperbólica

Anestesia desvanece

Rigidez plástica

Ritmo da haste permanece

Dismenorreias globais

Frigidez anafrodísiaca

Convulsão difusa

Classificação dónica

Área contusa

Contracção tónica

Delirio tremulo

Recalcamento venéreo

Torção extravagante

Estado etéreo delirante

Cópula bifásica

Ocitócico pernicioso

Lassitude corpórea

Necrólise espontânea



E uma última pérola da qual não consegui recuperar um vídeo mas apenas a letra, aqui fica...


Sufocada pelo sémen


Mulher extravagante

Amante do invulgar

No seu ritual diário

Gosta de copular Rasgada...Estropiada...Empalada...Esquartejada...Penetrada...Esfacelada...Enforcada...Esfaqueada...Decapitada...Estropiada...Copulada...Decepada...Montada...Estrangulada...Esganada...

Cavidade toráxica

Extracção vaginal

Simbiose hipoláxica

Aneurisma genital

Felação necrófila

Induração forjada

Psicótica quelante

Extravascular mamada

Jactos de esperma

Banham a sua essência

Tortuosa sessão

Com laivos de demência

Sufocada pelo sémen


Como disse no início, a melhor banda portuguesa... talvez...


(o autor das letras talvez tenha algum problema com membros do sexo feminino... talvez...)




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6.8.09

joana rosa


Ando com isto na cabeça... Pareceu-me bem coloca-la aqui...


Vitorino e Tito Paris - Joana Rosa



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23.7.09

electrões

O que é que faz o electrão correr mais devagar?

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21.7.09

bons velhos tempos...


Esta música e este genérico trazem-me muito boas memórias de grandes tardes de verão... Pensar nas condições de possibilidade do que era na altura, o que fazia sonhar ver esta banda desenhada... As maluqueiras que se faziam... andar descalço na calçada... roubar fruta aos vizinhos... andar à pedrada aos gatos... tomar banho em água do poço... fugir das vespas... construir cabanas na mata... Que bela infância...


As Aventuras de Tom Sawyer



Vês passar o barco rumando p'ro sul
Brincando na proa, gostavas de estar
Voa lá no alto, por cima de ti
Um grande falcão, és o rei és feliz.

E quando tu vês o Mississipi
Tu saltas pela ponte e voas com a mente.

Nuvens de tormenta já estão por aqui
Cobrem todo o céu, por cima de ti
Corre agora corre e te esconderás
Entre aquelas plantas, ou te molharás.

E sonharás que és um pirata
Tu sobre uma fragata
Tu sempre à frente de um bom grupo
De raparigas e rapazes.

Tu andas sempre descalço, Tom Sawyer
Junto ao rio a passear, Tom Sawyer...

Mil amigos deixarás aqui e além
Descobrir o mundo, viver aventuras.



Não consigo evitar cantar esta música...



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6.6.09

palavras

palavras... o que são palavras? meras expressões vocalizadas ou escritas, feitas com a vontade de querer dizer alguma coisa... sinto a tua falta...

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2.6.09

horas vagas

Sinto-me sem fé... Sinto gasto, fora de tempo... Como se os últimos anos tivessem sido apenas uma passagem, que não tivesse acrescentado nada de novo, não tivesse modificado nada... E creio que sim, que estou exactamente no mesmo sítio onde estava há cinco anos... Problemas de pertencer a uma geração que corre sempre atrás do tempo e nunca o encontra... Não me sinto parte de nada, não creio ter construido nada de relevante, não antevejo grande futuro nem grandes condições de possibilidade... Diabo de mania de só perder tempo... O tempo não para, nós paramos mas o tempo nunca pára... Acho que queria ter menos cinco anos... Poder refazer o que fiz... fazer o que não fiz... fazer o que queria ter feito... fazer o que devia ter feito... Só há uma coisa que se deve aprender com os erros. Não é não os repetir, é que não se deviam ter feito. Depois do erro cometido, raramente podemos fazer as coisas como se o erro não tivesse acontecido... Gostava de voltar atrás, àquele preciso momento no tempo e no espaço, ter dito o que não disse, ter feito o que não fiz, não ter feito o que acabei por fazer. O que devemos aprender com os erros é que não os devemos cometer... e o universo seria completamente diferente...

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26.5.09

telegramas


a dor:

O Conselho de Administração do Hospital **** ********* lamenta informar o falecimentodo seu filho ******** ******* ******. Para a família as nossas sinceras condolências.
O Conselho de Administração do Hospital **** *********


a sorte:

Tem no balcão do Banco ******** ***** de * ** ******* o voucher da viagem ganha por si. Pode proceder ao seu levantamento em qualquer altura.
Banco ******** *****


Às vezes, apesar das circunstâncias, o pormenor se ser o veículo de transmissão de emoções tão diferentes faz-me pensar que até nem é mau de todo fazer isto...

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25.5.09

semi-enganos intelectuais

dan brown:

"Correu para o bastião, como um avião com os depósitos vazios a voar a vapores de gasolina..."

Anjos e Demónios, nona edição portuguesa, página 446, ao fundo...

Mas que grande erudição...



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14.5.09

tm sítul

 sfrd... já ssu mi gr gu... s´ ss u f tcrvr p rcfrift... snh  t n ... lmsfmns nsr  numa tpirfl de l ucurf... a cabeça ptf...  lh fbt rsfmns   m nit r... d´i-m f cfbçf... s´dig  ftnirft... f grip n~f  m lfrgf... n~f  fui f  mxic ... mrdf pfrf tsf mrdf s df...


s = t

t = s

e = 

o = 

a = f

será que me enganei nalguma coisa?



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sobre ausências e faltas sentidas


a verdade vela-se...



estive quase, quase, mas mesmo quase para dizer o que não posso... 


por alguns momentos, breves, provavelmente provocados por uma embriaguês propositada, não para o efeito, dei por mim a sentir a tua falta...



 que ultraje o meu... esquecer que não tenho esse direito é um crime... 


devo remeter-me ao silencio do fingimento, minha obrigação mais que moral, minha dívida para toda a eternidade... 



sou um canalha, e assim me baptizo... 



já podes parar de fingir... 



não acredito nem por um segundo na tua dor...



sou humano... e foda-se...



isto não devia estar aqui... mas está... paciência...


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